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segunda-feira, 8 de dezembro de 1997

PETIZ





PENAFIEL

PETIZ





Eu, menino, o olhar seguindo… de calções branquinhos, camisola às risquinhas botas e camisa de colarinhos, tudo alvo naquele sorriso pomba gira que mostrava alegria, confiança na vida que ali vinha, demonstrava segurança de quem tinha olhos do mundo, aquela cumplicidade que havia por ter amigos e a serenidade de um rosto seguro, traduzido por uns olhos meigos e queridos, ou não fosse eu pequenino.

Quem olhava para mim, menino num olhar de criança, levava substância de quem seria amado, transportava uma balança com dois pesos e uma medida…

Num prato o coração a transbordar de correntes que aproximam os seres que amam, e noutro o peso equilibrado dos corações apaixonados que tomam quantidades em doses doseadas de amor e renegam para sempre o ódio, a guerra, a inveja, a sedução, sem lugar para o ócio e a espera, pela negação de contrários que trazem coisas positivas nas paixões conseguidas – puras conquistas.

Quem olhava para mim pequenino, jamais poderá ser grande, se o minúsculo sentido que dá origem aos fluidos vitalícios do organismo, emprestar cor à vida, o ser grande… voltar a ser pequenino, e o pequenino ser enorme na sua pequenez, com amor infindo.

 Quem olhava para mim criança, sentia a paz ao redor como uma auréola anunciada - uma pomba de asa branca mensageira, que trazia aos sete ventos espalhada a nova guardada, há muito desvendado...

Se na simplicidade está o significado que clarifica, tudo que nos rodeia na memória dos homens e da humanidade, e o segredo que roubaram da arca da aliança… inviolável, e de menos importância, é o equilíbrio de quem vai e vem, entre o mal e o bem, é o elixir da vida, a fórmula do dia-a-dia, é o que eu sempre trago comigo – amor distribuído.














segunda-feira, 10 de novembro de 1997

ERA UMA VEZ... O DIABO







ERA UMA VEZ... O DIABO





Era uma vez…

Não. Não é um conto para adormecer, criação para embevecer ou uma lenda dos antigos… muito menos o conto duma laracha ou caso de sacerdócio. É um ser diabólico que se intromete na terra dos sonhos, levando todos os anos crianças para o inferno.
O Danado veio visitar-me disfarçado de pesadelo real, atentando a minha pouca idade num pavor indescritível…

Era uma vez… o Diabo…

Tinha olhos terríveis de saguim
que alguma vez vi contra mim… meu corpo estremecia de tal espírito alado em minha vida.
Encarniçado rosto vermelho encanado, não tinha cicatrizes, face deformada ou sinal físico mal formado, mas olhos horríveis de cara desalmada querendo assaltar minha alma.

Fixos os meus de espanto
, os Dele, como aranhas em teia de manto nem sorriso maquiavélico revelava. Eu queria entender tanta desgraça sob invasão da mente desautorizada. Não permiti, fechando o interior deserto e senti o eco do embater Dele intensamente perto.

Era uma vez… o Diabo…

Era um homem, caveira, depois figura. Não era chifrudo nem cauda pontiaguda nem tridente usava... Seu cérebro perverso, procurava, procurava… incomparáveis olhos monstruosos!
Queimavam… terrivelmente fantasmagóricos, olhos esquisitos, mortíferos olhos. Pareceu-me uma eternidade… os séculos… míseros anos sem idade e de repente, percebi que o malvado queria compreender meu passado.
Ouvi a voz do malvado soar nas suas cogitações como eco do meu pensamento.

«Como é que esta débil figura… pode ter olhos mais medonhos… impios
mais profundos que o abismo do mundo? Infinitos impossíveis de alcançar na sua estrutura, separados por troços de intocáveis domínios?» 

Por eu ser quem sou… e se sentir inseguro continuava, perguntava e dizia, continuava e repetia, repetia:

Quem és tu, insignificante criatura de Deus que tens olhos cruéis mais mortais que os meus! Que não consigo entrar por essa porta nem sondar pensamentos teus?
Paraíso do meu Inferno… parecem segredos do céu agora?

Sentia que alguém falava por mim, e eu respondia surpreendentemente assim:

Eu tenho olhos mortais mais cruéis que os teus!
Desiguais os meus têm o amor como escudo, e o poder de Deus contra o mal no mundo. Os teus são luxúria, pecados de usurpação, por quereres tirar o trono em rebelião com outros anjos em fúria.
Foste expulso dos céus para o deserto e condenado ao inferno.
Vai-te antes que… novamente sejas castigado!
E mil vezes enclausurado!

/E não é, que se foi embora o Diabo?/

Nisto, acordei na escuridão do sótão da casa da minha avó Quitas alagado em suor, da febre e de tudo que o pesadelo me tinha causado.
Sabia bem o significado do sonhado, e também do mal que era tão real, mas prefiro dizer que era um pesadelo, porque quem vive tal horror sente que pode ficar sem alma e tornar-se um demente patológico. É inexplicável, mas eu sentia a companhia do meu Anjo da Guarda, por isso voltei adormecer descansado.

Era uma vez… o Diabo…

Não. Não é um conto para adormecer, criação para embevecer ou uma lenda dos antigos…olhe nos olhos dentro do olhar…e verá ilhas, terra e mar, lágrimas de estrelas, olhos meus, mistérios do Universo de Deus, Dom que se tem e não se sabe… e no final surge sempre um... porquê?
Porque na realidade tudo deixa de existir e o que era verdade inventa a lenda, e renasce a fantasia da historia e começa sempre assim...

Era uma vez…



  










segunda-feira, 13 de outubro de 1997

SONHEI QUE NASCI








SONHEI QUE NASCI


 

É possível sonhar com um ano num lado qualquer sincero?
Sonhei que nasci num lugar onde só existia inverno.

Ao nascer, eu não queria crescer.
Grande no sonho, acordado, tristonho, com o coração embaciado, era um acordar acabado de fantasiar, vindo nas batidas das asas, branquinhas penas emprestadas, acabadinhas de chegar.

Bastava viver noutros mundos a verdade coberta de patamares, onde as crianças falavam e não tinham idades. Não era importante a voz ter som, mas só saber voar, por dentro da terra ou do mar… porque o sonho aparecia do lado que era bom.

Havia magia… sem o não existir, nem precisava do sonhar, nem ter vida, apenas coexistir no amar.