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terça-feira, 27 de abril de 2004

HOMEM DO FUTURO








HOMEM DO FUTURO










Aproveitando todo este tempo no espaço, estudei profundamente com ajuda de sistemas computadorizados a gigantesca Galáxia Ecoriana. O sol de Eco de cor prateada a que dei o nome de Orio, abrange horizontalmente um anel circular com dez luas, e no centro o maravilhoso planeta Eterium com todas as características do nosso Globo-Mãe – terra, arvores gigantes, e imensa água doce. Não consegui encontrar seres inteligentes nem vida animal, mas sendo dez vezes maior que a Terra, tentando desbravar seu território demorará a vida dum ser humano, havendo a possibilidade de encontrar vida orgânica. Tamanho mundo foi uma descoberta única para toda sobrevivência da humanidade, podendo ser colonizado como uma Arca de Noé. Por sua vez, lá, um homem pode viver milhares de anos… por influencia dos raios gama de Orio que sustentam qualquer raiz ou célula no seu crescimento lento, sobrevivendo numa quase imperfectível eternidade. Tal fonte de energia, é emitida num eixo estreito em todas as direções das luas num flash isótropo, devolvendo tal potencia bipolar ao centro de Eterium, criando uma atmosfera oxigenada com seus compostos gasosos e gases concentrados quimicamente, com pouca variação e idênticos aos da Terra.









Vinte anos-luz com destino à Galáxia Eco, somaram dez anos à minha idade dos trinta. Ao regressar ao meus Sistema solar, no meu calendário da minha nave Tempus estão contabilizados um século depois da minha chegada.

 
Na minha partida... recordo lágrimas que eram mortais por não me verem nesta vida.
Lembro do último olhar que lancei ao céu do século vinte e um com os meus trinta anos de idade… agora quarenta… e os cem anos que mudaram radicalmente a minha cidade aquando da minha partida.
Dos laços mais chegados, ninguém que possa rever.
Uma viagem com uma derradeira despedida e um preço demasiado alto ao abraçar a profissão de piloto, matemático e cientista.

Troquei a família pelo vácuo negro dos pontos cintilantes como a véspera da árvore de natal na madrugada só de presentes… 





De olhar abismal, à saída da porta metalizada da nave, tentei suster um pé num degrau... mas não havia escada nenhuma.
Entre o metal da nave e a borda do estrado, abria-se uma brecha com espaço suficiente que me surpreendeu num pular ridículo e um esgar de expressão cómica, com olhares divertidos à minha volta.
Senti uma corrente oculta que me absorveu, flutuando num vão oco sem fim, para logo ser suavemente colocado numa área branca maternal e esponjosa.
Rapidamente me recompus  andando ao longo da plataforma…
Mirei o foguetão em que chegara repousando numa cavidade profunda, separado de mim por um abismo desprotegido. 







Era uma estação com a chegada e saída de naves e piões por todo o lado, de cores berrantes e sons estereotipados, com casos que mudavam o visual ao simples toque dum botão algures… de formas que se transformavam em futurismos excêntricos e controversos.

Letreiros luminosos...
Ecrãs electrónicos...
Vozes robotizadas...
Demasiada tecnologia para um homem do antigo… não era aquele tempo demasiado transparente, frio, sem emoções que estava à espera. 
Fiquei desiludido.






Apenas queria recolher à cidade, encontrar um hotel, deitar-me em cima da cama e recordar um século atrás…ver se algo valia ainda a pena recordar. Talvez vislumbrasse algum sorriso no passado que removesse sentimentos fazendo bater meu coração.

Era um homem sozinho, muito conservador, meu nome “Sonhador” indicava a minha origem com laços de sangue desconhecidos… totalmente deslocado.
Mas antes de adormecer... já tinha decidido partir em nova missão.
Afinal, era um piloto de corpo e alma com destino marcado no espaço escolhendo o amanhã como o meu lar e trocando algures tudo por mim… sem futuro definido.

/Uma terra quente por um infindável campo gelado, na companhia do silêncio com passeios de fato espacial, entre respirações solitárias de som nos ouvidos, tapando buracos no casco da nave provocados por choque de meteoritos. /






Ao viajar pela estrada do ar, sem tabuletas nem sinais de aviso, ia ao encontro da minha casa de campo com muitos hectares de astro, muitos planetas como árvores vizinhas e sois como sementes da vida.
O presente era demasiado avançado… um futuro incerto… sem sal que me provocasse sede do mar. Uma lua avariada de metades.

As árvores pareciam de plástico, e as flores cuidadas por máquinas não tinham aqueles cheiros de outrora… terrestres perfumes adorados.
Crianças caminhando em fila indiana como robôs telecomandados e animais sozinhos em zoológicos... os humanos eram alérgicos e tinham horror a uma lambidela dum cão e a um roçar pelo de gato…


  



Fez-me bem voltar para dissipar dúvidas e fortalecer incertezas.
Mas já nada me restava aqui.
Só pensava no dia em que faria de minha despedida uma nova partida ao encontro das minhas amigas estrelas…
O único lugar, o último lar, quem sabe… sonhando para sempre no cemitério eterno com todas as flores do Universo embelezando meu jazigo para a posteridade.


E naquele deserto escuro e cheio de rochas incandescentes me tornaria novamente numa lenda viva... um factor adverso da incontida solidão, estado natural de quem sobrevive às loucuras do pensamento e se transforma num Hércules dos mundos explorados. Um cisco no espaço, que alguém diria na Terra pertencer às estrêlas, e viver como o eterno Homem do Futuro.