HOMEM DO FUTURO
Aproveitando todo este tempo no espaço,
estudei profundamente com ajuda de sistemas computadorizados a gigantesca
Galáxia Ecoriana. O sol de Eco de cor prateada a que dei o nome de Orio,
abrange horizontalmente um anel circular com dez luas, e no centro o maravilhoso
planeta Eterium com todas as características do nosso Globo-Mãe – terra,
arvores gigantes, e imensa água doce. Não consegui encontrar seres inteligentes
nem vida animal, mas sendo dez vezes maior que a Terra, tentando desbravar seu
território demorará a vida dum ser humano, havendo a possibilidade de encontrar
vida orgânica. Tamanho mundo foi uma descoberta única para toda sobrevivência
da humanidade, podendo ser colonizado como uma Arca de Noé. Por sua vez, lá, um
homem pode viver milhares de anos… por influencia dos raios gama de Orio que
sustentam qualquer raiz ou célula no seu crescimento lento, sobrevivendo numa
quase imperfectível eternidade. Tal fonte de energia, é emitida num eixo
estreito em todas as direções das luas num flash isótropo, devolvendo tal
potencia bipolar ao centro de Eterium, criando uma atmosfera oxigenada com seus
compostos gasosos e gases concentrados quimicamente, com pouca variação e
idênticos aos da Terra.
Vinte
anos-luz com destino à Galáxia Eco, somaram dez anos à minha idade dos trinta.
Ao regressar ao meus Sistema solar, no meu calendário da minha nave Tempus
estão contabilizados um século depois da minha chegada.
Na minha
partida... recordo lágrimas que eram mortais por não me verem nesta vida.
Lembro do
último olhar que lancei ao céu do século vinte e um com os meus trinta anos de
idade… agora quarenta… e os cem anos que mudaram radicalmente a minha cidade
aquando da minha partida.
Dos laços
mais chegados, ninguém que possa rever.
Uma viagem
com uma derradeira despedida e um preço demasiado alto ao abraçar a profissão
de piloto, matemático e cientista.
Troquei a
família pelo vácuo negro dos pontos cintilantes como a véspera da árvore de
natal na madrugada só de presentes…
De olhar abismal, à saída da porta metalizada da nave, tentei suster um pé num
degrau... mas não havia escada nenhuma.
Entre o
metal da nave e a borda do estrado, abria-se uma brecha com espaço suficiente que
me surpreendeu num pular ridículo e um esgar de expressão cómica, com olhares
divertidos à minha volta.
Senti uma
corrente oculta que me absorveu, flutuando num vão oco sem fim, para logo ser
suavemente colocado numa área branca maternal e esponjosa.
Rapidamente
me recompus andando ao longo da
plataforma…
Mirei o
foguetão em que chegara repousando numa cavidade profunda, separado de mim por
um abismo desprotegido.
Era uma
estação com a chegada e saída de naves e piões por todo o lado, de cores
berrantes e sons estereotipados, com casos que mudavam o visual ao simples
toque dum botão algures… de formas que se transformavam em futurismos
excêntricos e controversos.
Letreiros
luminosos...
Ecrãs electrónicos...
Vozes robotizadas...
Ecrãs electrónicos...
Vozes robotizadas...
Demasiada
tecnologia para um homem do antigo… não era aquele tempo demasiado
transparente, frio, sem emoções que estava à espera.
Fiquei desiludido.
Apenas queria recolher à cidade, encontrar um hotel, deitar-me em cima da cama e
recordar um século atrás…ver se algo valia ainda a pena recordar. Talvez vislumbrasse
algum sorriso no passado que removesse sentimentos fazendo bater meu coração.
Era um homem
sozinho, muito conservador, meu nome “Sonhador” indicava a minha origem com laços
de sangue desconhecidos… totalmente deslocado.
Mas antes de
adormecer... já tinha decidido partir em nova missão.
Afinal, era
um piloto de corpo e alma com destino marcado no espaço escolhendo o amanhã
como o meu lar e trocando algures tudo por mim… sem futuro definido.
/Uma terra
quente por um infindável campo gelado, na companhia do silêncio com passeios de
fato espacial, entre respirações solitárias de som nos ouvidos, tapando buracos
no casco da nave provocados por choque de meteoritos. /
Ao viajar
pela estrada do ar, sem tabuletas nem sinais de aviso, ia ao encontro da minha
casa de campo com muitos hectares de astro, muitos planetas como árvores
vizinhas e sois como sementes da vida.
O presente
era demasiado avançado… um futuro incerto… sem sal que me provocasse sede
do mar. Uma lua avariada de metades.
As árvores
pareciam de plástico, e as flores cuidadas por máquinas não tinham aqueles
cheiros de outrora… terrestres perfumes adorados.
Crianças
caminhando em fila indiana como robôs telecomandados e animais sozinhos em
zoológicos... os humanos eram alérgicos e tinham horror a uma lambidela
dum cão e a um roçar pelo de gato…
Fez-me bem
voltar para dissipar dúvidas e fortalecer incertezas.
Mas já nada me restava aqui.
Só pensava
no dia em que faria de minha despedida uma nova partida ao encontro das minhas
amigas estrelas…
O único lugar, o último lar, quem sabe… sonhando para sempre no cemitério eterno com todas as flores do Universo embelezando meu jazigo para a posteridade.
O único lugar, o último lar, quem sabe… sonhando para sempre no cemitério eterno com todas as flores do Universo embelezando meu jazigo para a posteridade.
E naquele deserto
escuro e cheio de rochas incandescentes me tornaria novamente numa lenda viva... um factor adverso da incontida solidão, estado natural de quem sobrevive às loucuras do pensamento e se transforma num Hércules dos mundos explorados. Um cisco no espaço, que alguém diria na Terra pertencer às estrêlas, e viver como o eterno Homem do Futuro.
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