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segunda-feira, 30 de dezembro de 2002

RITUAL





/EM VILA FRANCA DE XIRA/

RITUAL



Por vezes, sentia-me dividido, partes confusas, tudo andava depressa no meu espaço, as horas do dia eram escassas e as da noite diminutas, insensatas, para o ritmo que levava.
Pisava o chão como se estivesse minado de agulhas, nunca fui capaz de permanecer na duração do sítio inventado…

E as horas passavam nos segundos, como a máquina do tempo à volta do mundo…
Eu não tinha paz no minuto, e os anos da juventude eram sempre frescos, irresistíveis para quem se aproximasse, rostos que eu amava com a entrega do ser, passavam como o vento, não davam descanso para ver a idade.

Um dia seriam a desgraça, quando quisesse parar… onde devia estar e a quem tinha feito a promessa de encontrar a verdade no amor.

O sol era o meu relógio e a lua o esquecimento dos bafos quentes, dos panos amarrotados no chão da cama, dos gemidos profundos em intermináveis paredes desconhecidas, dos corpos reunidos em braços e pernas encolhidos, das vozes que faziam promessas sem sentido, na podridão do sentimento vivido depressa.

Não tinha pressa de viver, mas momentos vividos valiam uma vida sem nada ter pedido, não tinha hora de chegada nem de partida, andava um pouco à revelia da liberdade, sem sentido, meus passos não tinham contrato efectivo, era abstracto e desconhecido e o mundo demasiado fácil, e a minha vontade fraca no querer parar, e forte no dominar.




sábado, 30 de novembro de 2002

A BUSCA DA ETERNIDADE




/EM SANTARÉM/

A BUSCA DA ETERNIDADE





"Sentindo o vermelho viscoso queimado, um calor no corpo todo, foi como se tivesse atirado, deitado a alma fora no ar solto. Caí em cima da cama, adormeci num ápice tal e qual, perdi os sentidos e vi uma iguana… 

Senti uma chama como fogo devorando meu espírito, voltando à minha posição fetal, todo encolhido, sob o olhar do camaleão... lambendo minha mão.
Sonhando, ou vivi, dei de caras com a minha personagem, com o rosto de mim.
Estava ali à minha frente na imagem…e então vi… éramos dois iguaizinhos a um, se tirasse o real por entre o sonho, ficava a realidade a sonhar e um de nós não via outro nenhum, a não ser fantasia no olhar sem rosto clivado como um ombro, com olheiras negras… de meter medo ao espelho das incertezas – um monstro.

Viajando dentro do corpo, o sangue correndo de artérias viscoso assisti quase morto à seiva subindo e descendo naqueles vasos esponjosos, de tanto encarnado porosos inundando toda existente ramificação, pulando vivo cem por cento no ribombar ensurdecedor do coração batendo na sombra… como o tambor da bateria no som “baixo” nada “grave” e violento, como uma bomba.

Viajando fora do corpo, elevando minha alma lá no alto, via-me deitado na companhia de mais corpos, todos cheios de estrelícias dourados, da família dos musáceos como cachos soltos.
Meu espírito observando também sonhava, estava sob efeito na forma de anestesia, e nunca pensou que algum dia sua espiritualidade se embriagava, mesmo apartado da matéria viva.
Vivi sonhando, morri vivendo de vez em quando…"

«««

Acordei pensando no sofrimento voltando aos meus sonhos vivendo. Vivo o anormal, e não consigo estar acordado se fujo do que não gosto… o mundo é demasiado evidente, tosco e pachorrento.
Quero dormir o sono eterno da saudade, tudo o que eu vivi quando fui amado.
Sonho que estou a ser embalado pela espuma doce do mar, morro nascendo no passado insano…

Com o sangue fervendo - não quero acordar, mas o choque da fatalidade que me cerca, e o que sendo não sou, é uma verdade insofismável, e desperto como um amofinado da morfina para voltar desinteressadamente à minha forma rotineira... 

O que me mantém vivo nem eu sei porquê, senão a espera contínua do desconhecido aventureiro suicida. A  minha salvação se é que ela existe, reside apenas num principio comun e banal - ser compreendido. Parece ridicula esta palavra como ridicula é a minha vida aos dezanove anos, depois de sair da terra e das pessoas que mais amei, substituidas por outras que possuí e deitei fora sem me aperceber da indiferença dos meus actos.


A mudança que eu tanto anseio, a compreensão que espero de Deus, será o descanso da minha alma junto dos seres que se encontram no abraço da sua eternidade... o desejo e o encontro onde reside a minha felicidade.











quarta-feira, 30 de outubro de 2002

UM TIRO P'RO AR









UM TIRO P’RO AR





Sair como uma flecha
entrar como uma bala,
desaparecer depressa
era o que faltava.

Partiu que nem uma seta
naturalmente sem marca.
Ao sair do ar para a matéria
encontrou a peça de caça.

Mas o olho que a mira guiava
ao não a matar, feriu uma asa.
E a ave caiu no matagal da selva
com arbustos amortecendo a queda.

O caçador sofria de miopia excelsa
e em vez do pombo bravo, eliminara
da Falconidae um Falco chicquera
fora do território da sua caçada.

O faro dos cães de caça na refrega
revolviam entulho tudo à pressa.
Mas ali, o cheiro da merda, tapava
a visão da ave no sossego da palha.

Pareciam animais possuídos de raiva
farejando o cujo à vista desarmada.
Previam o pobre colmilho sem defesa
mas a cegueira do fedor era extrema.

O falcão sobrevia por via da caca
do excremento de animais na relva
esfregando o sangue ferido da asa
das fezes que eram mezinha certa.

Com elas curou as dores da fraca ala
e encontrou sustento que a salvara.
Voou ao planador céu sem estrela
abrindo suas asas coloridas de beleza.

Sair como uma flecha
entrar como uma bala,
desaparecer depressa
era o que faltava.

Voltou à sua montanha com uma presa.
Poisando no ninho que tinha no penhasco
gorjeia no bico pequenino do filho Falco
onde tinha sua cria esfomeada à espera.













quarta-feira, 25 de setembro de 2002

O PODER ... DOS REIS







O PODER...


I





O poder por aí prossegue no mundo em desordem, desorganizando o mundo dos vivos… continua invicto. Haverá mais homens que iluminados espíritos, um mundo perdido.

A perfeição dos mundos segredos escondidos, serão quando os homens deixarem de existir, será quando a imortalidade da alma sentir!
Que no mundo só poderá haver apenas espíritos.

Ternura de asas repartindo, só o “amor” tornado eterno, somente vivo como única matéria, transformará defeitos nos novos mundos perfeitos.
Serão vindouros tempos… um pouco das magias como fórmula certa, uns pozinhos de segredos misturados com mezinhas antes nunca desvendados, pelas novas dos ventos em parte incerta, voltando aos tempos antigos.



... DOS REIS

II




Confundiram um feiticeiro de cabelos compridos, bíblico, ordeiro, com um Sansão puro, igual ao meu Deus cabeludo… profundo, irmão, de olhos bonitos … então, fizeram tudo!… para apagar o ADN dum miúdo.

O corpo era menos importante, mas era rei no reino dos homens, demasiado Grande…
Deus, até podia ser!
Agora tomar o lugar dos reis no poder!?
Nem que fosse só o rei dos pobres carentes, que morressem milhões de criancinhas!
Que ficasse pouca gente… desde que houvesse reis e rainhas!

Como um novo aviso entre novos vizinhos e vizinhas, para lerem o Livro e contar histórias aos meninos e meninas, com cuidados sem sufixos nem cautelas com prefixos… um pouquinho que meus olhos sabiam, tudo o que os deuses queriam…eram leis para transformar homens em galinhas!
... negando o poleiro como um dever mítico, desde que houvesse Reis e rainhas, e um Rei no Poder, pregado num crucifixo.