Poucas semanas de vida
MOSCAVIDE
RETRATO
Deixa-me ser
assim... tu que podes parar o tempo, lança teu feitiço com pozinhos
surpreendentes à minha imagem fixa, deixa-me vivo nessa forma de vida,
bebezinho com encantos sorrindo, frágil, puro, feliz no colo materno.
Deixa-me,
peço-te!
Deixa-me ser
assim pequenino, bebé eterno no meu retrato, vivendo no mundo sem antiguidades
nem humanidades complicadas, onde só existe a foto da criatura naquele rosto de
sorrisos, e aqueles olhinhos que querem dizer sem enganos… imitar a voz que
conhece nos braços da sua protegida, a única palavra que ninguém lhe ensinou
nem tradução necessita numa qualquer linguagem universal, sequer precisa que
lhe diga alguém – envolto naqueles galhos ternurentos, que é amor doce de Mãe.
Deixa-me ser
assim eternamente pequenino, viver no meu retrato, no carinho daquele peito
aconchegado, no afecto envolto em abraços daquela voz melosa e quente… deixa-me
peço-te!
Deixa-me ser
como aquele retrato, sempre menino daquela idade, ser amado por entre beijos e
calores humanos sem crescimentos de idades, com aquela felicidade daqueles dois
sorrisos… viver o perpétuo, constante coração amado.
Deixa-me
viver dentro do passado, tu que podes parar o tempo, embalsamado… nos braços do
meu retrato.