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segunda-feira, 12 de janeiro de 1998

A BRASEIRA







/NO PESO DA RÉGUA/

De bruços nos braços do fogo,
senti quão ruim desconforto,
era minha queima de inverno,
primeiro amor, dor de inferno.


A BRASEIRA
 





Sentado naquela cadeira tão antiga e o corpo no tampo todo em cima, estava poisado na base; não gostava daquela madeira acre, tinha uns golpes entalhados, decorados com insígnias estranhas… alguém que as desenhara com propósitos fascinantes e algumas manhas, que de certa maneira tinham uma qualquer atracção, mas algo dentro de mim repudiava... eram contrários à natureza que me formara.

Cegamente, a minha atenção vinha a pique descendo mansamente… fixando a coloração laranja de tremor, e crepitando o intenso calor amarelo no coração, o momento em ascensão pelo vermelho da cor.

Sentado naquela cadeira tão antiga… por ser muito alta subida, parecia uma prisão. Não conseguia chegar ao chão, e ainda por cima não sabia andar.
Queria ir para ali… voltar a gatinhar.
Sorria e gritava, mergulhava, nem que fosse de joelhos (se fosse permitido descer do céu da cadeira), caminhar de rastos sobre meus artelhos, sufocando a impotencia de mim.

Todo aquele carvão ardia misturado com algumas cavacas de lenha juntas, largava um fumo indelével que mal se via, e o olharzito buscava aquelas fagulhas, mais ainda a minha mão estendida querendo apanhar aquelas chamas enxutas… de quem ninguém desiste, como se o factor principal fosse o odor natural daquele fogo que me assiste.

Sentado naquela cadeira tão antiga... com uma mão na outra batia. Estava contente, e com outra noutra mão parava.
Com os dedos entrelaçados olhando maravilhado, eu balbuciava uns sons alto, por vezes gritava com sorrisos e novas palmas, e as mãos batiam com força quase de irritação… 

Minha mãe estava ali atarefada, vigiando pelo canto do olho meus gestos, mas ainda não falava e embora saíssem sons ininteligíveis (dialecto real)… eram palavras do meu imaginário que os bebés espertos entoam… /Um dia os crescidos iriam ter um dicionário para aprenderem a conversar com meninos da minha idade./

Sentado em cima daquela cadeira antiga, olhava quando em vez para a minha posição invertida, para ver como ia minha colocação.
Estava a começar a ficar incomodado perigosamente com a minha acção… num chega chega a pouco e pouco /outro tanto/ – devagar fora do banco, queria ir lá para baixo… talvez deixar a cadeira vazia num salto…

Então de mãos estendidas, tentava apanhar as fagulhas libertas das chamas, e quando uma imaginava que era minha, eu dava saltos assentado da maneira que podia, e contente batia palmas e ria. 

De repente... uma faísca como uma linda estrela aparecia, e embora não soubesse o nome dela, eu adorava vê-las à noite pela janela, estendia as mãos para lhes tocar e senti-las… e para a frente me inclinei caindo com os pezinhos nus dentro da braseira.
Espantado com aquela dor imensa, meti as mãos nas brasas para tirar as pernas e os pés da torradeira… na altura, ainda não sabia que o inferno também queima. 

Senti pegarem em mim debaixo dos sovacos e no colo o abraço de mãe, com abraços bem apertados de quem sofre e me quer bem, num enlaço com aperto, dois abraços num coração aceso. 

Que melhor sorte há nos corpos, do que afagar a mente na ternura posição? Direccionar os olhos… sentir o mundo nas mãos.