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segunda-feira, 9 de março de 1998

VIAGEM A COIMBRA







VIAGEM A COIMBRA




 
Imagine-se… até a mim, hoje, me parece quase impossível, fazer aquele trajecto inúmeras vezes, únicas no sentido, o custar acreditar, sozinho, despreocupado como sempre dentro do destino.
Agora, era viagem duma vila, directo à cidade, com quatro anos o revisor ao lado… apertando minha mão com cuidado, ajudando-me a descer o estrado… 

Como eu adorava andar de autocarro!  

Pela janelinha, olhando sempre para as árvores, as casas, os automóveis na estrada, alguém a passar… e eu a sonhar como se estivesse a ver um documentário, as imagens a passar a noventa ou mesmo a cem quilómetros por hora… num cinema moderno, daqueles dias coloridos com todas as cores da natureza sem preto nem branco.

Aquilo é que eu gostava de ir à janela!  

Depois, os olhos de tanto se focarem, ficavam hipnotizados, parecia um sonho em movimento, o que estava lá fora, e dava a sensação do quieto, teimosamente parado, e eu a sonhar que o meu corpo voava ao passar pelas coisas das imagens, entre a vidraça e a imaginação da velocidade… 

Era um filme real sem playbacks nem imagens gravadas, passado ao vivo.  
Aquilo era demasiado belo, para ser verdade.

Aquilo é que eu gostava de ir à janela!  

Ir à cidade… viajar de autocarro. 
Ver o meu mundo através da vidraça, sonhando que voava…
Mirando tantos corações, pulsando nas cores arco-íris tão bonitos… o brilho das asas das aves e borboletas na minha companhia, batendo em sintonia na beleza que é a natureza.