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segunda-feira, 11 de maio de 1998

FOSSA DE ÁGUA






CONDEIXA
  
FOSSA DE ÁGUA




 
Caí lá dentro da fossa (4 anos) e quando estava prestes a desaparecer, fui salvo porque alguém tinha aberto a porta nesse exacto momento – a outra porta.


Dei uma espécie de andamento, senti o vácuo e um frio, e o outro pé ao mesmo tempo sem tino, caí direito em sentido, não esbocei nenhum movimento e se tinha senso não dei por nada, não sabia o que me tinha acontecido, não chorei e até achei graça por os olhos deixarem de ver, e o nariz achei tapado, a beber lodo e água choca da poça. 

Foram uns segundos sem respirar, pareceram-me uma eternidade… então vi trombetas que sobressaíam das conchas do mar como um milagre, vi anjos albinos tocar harpa num som celestial, peixes a dançar, um carro submarino sem rodas e a hélice a rodar, puxando um bando de anões que davam saltos engraçados com suas badanas coloridas, e a pequena sereia num trono a ouro dourados, à espera de ser humana um dia. 

Lembro-me que estava a sorrir por ver aqueles bonecos de cabelos bem penteados, rostos coloridos, bota de jogral e penacho de plumas… /estendi o braço, queria me juntar./

Puxaram-me, fiquei no ar cá fora, aborrecido por o meu espírito deserto… no sonho sem sentidos - acabar.