/EM LEIRIA/
REVISTA “AOS QUADRADINHOS”
Era tarde de
verão… de calções e sandálias, caminhava com um chupa-chupa na mão com sabor a
limões.
À porta duma
papelaria, olhava maravilhado para os livros de banda desenhada pendurados, não
tinha uma moeda sequer de entrada.
Peguei num, desfolhando as folhas, espreitando o empregado pelo canto do olho, com o balcão cheio de pessoas.
Peguei num, desfolhando as folhas, espreitando o empregado pelo canto do olho, com o balcão cheio de pessoas.
Todo eu
tremia por dentro, com um fogo que me consumia.
Não sabia se tinha coragem e talento para fugir… o desejo era tanto ir, mas os pés colados ao chão não queriam seguir viagem, e meu olhar vivo, disfarçado dum lado para um e outro, seguiam o funcionário e o livro…
Estava prestes a correr, quando de repente... seu olhar entrou no meu de frente. Senti um tiro cá dentro da fronha e pensei que ia morrer de vergonha…
Não sabia se tinha coragem e talento para fugir… o desejo era tanto ir, mas os pés colados ao chão não queriam seguir viagem, e meu olhar vivo, disfarçado dum lado para um e outro, seguiam o funcionário e o livro…
Estava prestes a correr, quando de repente... seu olhar entrou no meu de frente. Senti um tiro cá dentro da fronha e pensei que ia morrer de vergonha…
Todo a
tremer, coloquei a brochura aos quadradinhos no sítio sem ver, de pernas para o
ar sob olhar do indivíduo furioso; senti um ardor no miolo e um pingo de mijo
saindo pelo escroto.
Abanou a
cabeça, com as mãos nas ancas me desafiando…
Eu entendi com tristeza, sem tirar os olhinhos das bancas e do marmanjo, endireitando os “quadradinhos”.
Eu entendi com tristeza, sem tirar os olhinhos das bancas e do marmanjo, endireitando os “quadradinhos”.
Desta vez
mexeu o rosto de cima para baixo, como a dizer que desta vez escapo; e já mais
descontraído com outro cliente e um sorriso – foi uma fracção de segundo… ele
ficou distraído, e eu arranquei amarrotando o rosto do Tio Patinhas e aquele
ouro todo… fujo.
Como uma seta fui parar à esplanada do jardim.
Ainda o ouvi a gritar, mas nunca mais me pôs a vista em cima.
Como uma seta fui parar à esplanada do jardim.
Ainda o ouvi a gritar, mas nunca mais me pôs a vista em cima.
Nem a mim,
nem à revista.