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segunda-feira, 12 de julho de 1999

“REVISTA “AOS QUADRADINHOS”




/EM LEIRIA/


REVISTA “AOS QUADRADINHOS”





Era tarde de verão… de calções e sandálias, caminhava com um chupa-chupa na mão com sabor a limões. 
À porta duma papelaria, olhava maravilhado para os livros de banda desenhada pendurados, não tinha uma moeda sequer de entrada.
Peguei num, desfolhando as folhas, espreitando o empregado pelo canto do olho, com o balcão cheio de pessoas.
Todo eu tremia por dentro, com um fogo que me consumia.
Não sabia se tinha coragem e talento para fugir… o desejo era tanto ir, mas os pés colados ao chão não queriam seguir viagem, e meu olhar vivo, disfarçado dum lado para um e outro, seguiam o funcionário e o livro…

Estava prestes a correr, quando de repente... seu olhar entrou no meu de frente. Senti um tiro cá dentro da fronha e pensei que ia morrer de vergonha… 

Todo a tremer, coloquei a brochura aos quadradinhos no sítio sem ver, de pernas para o ar sob olhar do indivíduo furioso; senti um ardor no miolo e um pingo de mijo saindo pelo escroto. 

Abanou a cabeça, com as mãos nas ancas me desafiando…
Eu entendi com tristeza, sem tirar os olhinhos das bancas e do marmanjo, endireitando os “quadradinhos”. 

Desta vez mexeu o rosto de cima para baixo, como a dizer que desta vez escapo; e já mais descontraído com outro cliente e um sorriso – foi uma fracção de segundo… ele ficou distraído, e eu arranquei amarrotando o rosto do Tio Patinhas e aquele ouro todo… fujo.
Como uma seta fui parar à esplanada do jardim.
Ainda o ouvi a gritar, mas nunca mais me pôs a vista em cima. 

Nem a mim, nem à revista.