O POETA BORRACHÃO
Aquele corpo
oscila entre o erecto e o vacilante… avança, pára dançante, se inclina.…
fazendo
vénia ao Deus Baco, fala como quem quer sorver… vacila para tentar compreender,
mas o cérebro delira como quem sonha acordado.
De pé,
procura a dignidade… /Sai um arroto com densidade/.
Empertigando
o dedo… jura que são ilusões alcoólicas, sonhos de bebedolas, e tanta sede de
sonhar bêbedo. Sem mentir, encharcado no soro da verdade, canta a missa do galo…
embebedando
as palavras, desperta.
Não sabendo
fingir de tanta sinceridade… nem querendo ser malcriado recitando, não deixa de
ser poeta. Feliz no aturdir, lá vai a cair na saudade o poeta borrachão com
soluços no coração.
Lágrimas em
pingas submerso solta quadras às avessas. De tanto trocar o verso… jura,
benze-se… tropeça. Entorpece o borrachão poeta de cara virada para as estrelas…
sorri àquela lua tão bela.
Seu último
olhar é p’ro Universo, feliz daquelas formas imensas.
Ainda solta
um último verso decadente… seu corpo acolhe o lençol da noite de verão. Contente,
devaneia o poeta borrachão… e adormece sonhando com as estrelas.