As personagens são inventadas
mas a historia deles verdadeira.
A linguagem é daquelas usadas…
Se é lingrinhas e macaca, não leia.
DIREITA OU
ESQUERDA?
TANTO FAZ!
A família
Montiverdas vivia no Bairro de Lata no Prior Velho (Portugal).
Ao passarem
na rua, todo o submundo procurava o comércio variado e atraente das suas mercadorias
que vendiam como feirantes e não passavam de uns reles traficantes.
A maioria da
população do Bairro de Lata é gente cigana, que sempre viveu à margem da lei,
usando negócios ilícitos, e ultimamente no trilho das drogas duras.
Também trocavam
o trabalho pelo furto diário em delitos menores, que eram passados de avós para
pais e de pais para filhos… sangue rebelde que lhes estava enraizado na
hereditariedade de seus antepassados, que desde tempos memoráveis lutaram à sua
maneira contra todas as raças para serem livres e submeterem-se apenas à etnia
cigana.
Mas a
família Montiverdas era uma cepa à parte, descendente dos mouros… raça de
origem árabe aportuguesada, nos tempos muito desleixada e que por não tomarem
banho e andarem muito porcos, ao viverem naquele Bairro de Lata se confundiam
com os ciganos, que lá do paraíso no inferno do céu, abençoava os nascidos com
água natural dos esgotos, e pó de talco na carne putrefacta para as partes
amarelada, com bolinhas de pus e aspecto inchado formidável… às filhas
Putikekra, Nhetaclara, Assalipa, Lenachaga, Reproveja, Lenaseque, Bobovina, e
às filhas destas filhas… Laviseka, Sussurra, Belígera, kalilenda, Novipika e
kaleija, todas elas habituadas a viver no meio de chatos, percevejos e lêndeas.
Frequentaram
levianamente a Escola Primária (4ª classe), depois a vender nas feiras e mal
tiveram corpo de mulher, todas elas perdendo a virgindade com irmãos, primos e
cunhados, iam com grande descontracção no verão, em plena Avenida de Lisboa
trabalhar na prostituição.
Por vezes,
pegavam-se em grandes discussões e à porrada com as putas ali perto do
Intendente pela disputa daquele território em plena Avenida, quem vem do Tejo
pelos Restauradores, ou quem vem da Rotunda do Marquês de Pombal em linha
descendente.
As putas do
Intendente mostram-se perto de casas antigas (com rendas mais baixas) onde o
chulo tem quartos alugados, por aquelas ruas de travessas e esquinas doutro
bairro que parece a certas horas outro mundo… e à noite nos meses de Verão, a
Avenida é o chamariz para acabar no Intendente.
Tomavam
banhos de perfume em vez de água, coisa que aqueles corpos poucas vezes viam
numa bacia velha e sem esmalte, por viverem em barracas com pulgas e com
ratazanas do tamanho de coelhos saindo das tocas como se fossem animais de
estimação.
Os clientes
desconheciam a falta de higiene daquelas potenciais inimigas da saúde, e
durante a noite à luz da lua ou sem ela eram aliviados… para nos dias seguintes
ganharem doenças de pele com as mais porcas enfermidades que a comichão os
acometia, ficando tão roxos, em carne viva… como as partes íntimas daquelas
moças rameiras.
Os irmãos Bagalhão, Fujifoge, Sacoconde, Acucorda,
Fumija, Caguincha e Montiverda júnior, apelido familiar dos Montiverdas por ser
o mais velho, e todos eles respeitáveis ladrões de profissão e abençoado
sustento da família, com mais outros tantos cunhados e outros filhos deles,
porque eram muito religiosos da parte do Deus que fugiam…pedindo com muita fé…
para que a polícia nunca os apanhasse e metesse no chilindró.
Verdade
verdadinha… trabalhar? Trabalhavam como uns desalmados!
Lá
isso, era vê-los coitados!
Sempre
ali a darem no duro e a palmarem tudo quanto era do vizinho mais próximo.
E quem os
visse (porque ninguém os via), parecia que alguém acabaria por dizer, que ali
estavam os homens da Nação… a lutar para a humanidade continuar a ser uma das
mais velhas profissões do mundo – ladrões.
Montiverda
falava muitas vezes que admirava os políticos e os gajos das Câmaras, falando
com o calão e os chavões populares que é próprio das gentes sem educação:
- É pá,
admiro aqueles paneleiros!
Formam-se, são
doutores, roubam milhões… toda a gente sabe o que eles são, passam pelos
tribunais para o povo saber que não são ladrões… e nunca são apanhados, e
depois vivem à grande e à francesa!
Já disse à
minha Maria, que o meu próximo filho vai para a Universidade bater com os
cornos nos livros e ser um doutor daqueles… para poder trabalhar à vontade e
ficar bem na vida. Pelo menos, em vez de ser perseguido, é antes guardado pela
polícia e o doutor juiz ainda lhe passa um papel que prova a inocência do
rapaz… tudo ali, o preto no branco como manda o figurino, porque aqueles filhos
da puta podem ser uns larápios mas não são mentirosos… os tribunais atestam
isso mesmo, enfiam-lhes a honestidade pelo cu acima.
Bons e
empenhados comerciantes como era costume… salteavam as farmácias à procura de
“drunfos” como a metadona, morfina, comprimidos de metaqualona para vender aos
desgraçados das drogas, além de traficarem Ecstasy e heroína.
- Dos
Supermercados, rapinavam caixotes de tabaco e álcool, com preços acessíveis para
revenda e contrabando dos piolhosos como eles, roubando carros de madrugada e
sacando com mãos de veludo… carteiras e malas no metro.
- Assaltavam
o armazém das fábricas de plásticos para vender nos mercados vários… como
alguidares, regadores, pratos, talheres, brinquedos… que eram transportados
numa camioneta de caixa fechada para fuga dos impostos, e dos papéis que
comprovasse a autenticidade da mercadoria, tendo que viajar de noite a horas
menos próprias para fugirem à polícia. Enfim, negócio herdado do sangue dos
antepassados e do tempo que ainda existiam piratas… só que os piratas, hoje,
são mais sofisticados.
Uns
ressonavam, outros fodiam como se fosse o acto mais normal do mundo… e nem
sequer se preocupavam em evitar uns gritos de prazer e uns ohohoh! De tesão,
rangendo as molas da cama e estremecendo os nervos de quem queria adormecer.
Às vezes,
alguém gritava dizendo: Deixem-me dormir seus filhos da puta!
- O pai
Páraraios que fazia de ama-seca, era casado com mãe Matraquilhas que vive
actualmente debaixo da terra… sim já morreu. Era uma santa endiabrada quando
enviava tempestades de carga de porrada ao Páraraios, partindo os cornos do pai
que era marido de figura presente e um saco de descarga de toda a sua
adrenalina.
Páraraios
era gay, e sempre que podia fazia parte das manifestações homossexuais,
vestindo-se de mulher, com uma saia, meias e ligas coloridas e uns sapatos de
salto alto que lhe faziam inchar os pés, e uma sacola a tiracolo que lhe dava
um gosto especial.
Todo o mundo
sabia e ninguém se importava, porque ajudava nas lides da casa, cozinhava,
limpava, lavava e ainda levava no cú…
- Mãe
Matraquilhas cuspia a rir nas sopas de pão com leite azedo da avó Mataratas,
que era gaga e via muito mal. Ia imitando ao mesmo tempo a desgraçada, comendo
alhos crus para assoprar com o hálito da boca e poupar nos pequenos-almoços,
servindo sempre as mesmas sopas, que juntamente com o cheiro dos alhos
tresandavam a podre insuportável e faziam vomitar a velha. Brincadeiras de
pessoa com miolos queimados.
Mãe
Matraquilhas limpava ainda a porcaria dos filhos, atirando às trombas deles com
cuidado para não sufocarem com o mau cheiro e ensiná-los a não cagarem tudo
quanto era sítio… aos cães esfrega-se o focinho na merda, a eles também quando
se irritava.
- Da irmã
Machéfu que bebia tudo sem sacrifício de tanta bebedeira, fumava muitos maços de
tabaco por dia e entupia de fumo a chaminé da cozinha… pagando o defeito a
matar a rata de trabalho… quando lhe faltava o dinheiro para o vício.
… Um dia,
que não era belo para aquela criatura, Matraquilhas empurrou-a lá do alto do
escadote, partindo-lhe os braços e as pernas, e os dedos dos pés engessados no
Hospital do Estado, para se ver livre dela e do fumo de cigarro.
- O avô
Picholas que era surdo, zarolho e coxo, e fazia o lugar do pai Páraraios,
deitava-se com a mãe que não era filha, perdoando-lhe o mau feitio com umas
quecas às sextas e sábados e domingos na hora da missa… aumentando o número de
filhos lá em casa.
- O cunhado
Zéferro era sucateiro, e quando despia o fato de macaco todo sujo, a sua pele
tisnada pelo surro e falta de água, parecia queimadinho do sol da praia… só que
era uma acastanhada cor de caca, que fazia lembrar um cagalhão doente do mesmo
nome e com a mesma colorido… como sofresse de icterícia e escorbuto… e por onde
passasse deixava um rasto do cheirete a merda, não só da pele mas também por
aqueles pelos do cu nunca ter visto papel higiénico, e os cabelos engrossados
pela porcaria seca terem a parecença da palha…
Decididamente,
Matraquilhas era uma mãe neurótica que passava a vida a infernizar toda a
família, e estes fartos dela… existia a possibilidade a qualquer momento de a
mandar para a quinta das tabuletas, para acabar com o seu mau feitiozinho.
Mas ironia
do destino… o seu dia de apresentação estava marcado, e quem acabou por a despachar
para o outro mundo… foi quem menos se esperava.
A avó
Mataratas passava a vida a matar dezenas de ratazanas à vassourada, o que não
lhe parecia boa solução, visto elas serem cada vez mais numerosas… e como não
tinha mais nada para fazer, e o tempo todo a aborrecia sem ocupação, teve uma
ideia que na altura lhe pareceu excelente para resolução da rataria.
Então, pediu
a uma vizinha doutra barraca que era especialista em drogaria, que lhe
arranjasse veneno em pó, e assim, deu-lhe uma sacada.
Dito e
feito, pôs-se a espalhar por tudo quanto era sítio… e por sinal, as cabeças de
alho que estavam no chão da dispensa e que lhe pareciam montes de serradura
como camas para ninho da bicharada… ensopou-as com o veneno não se apercebendo
do erro fatal.
Mãe
Matraquilhas que estava no hospital internada com uma grande depressão nervosa,
regressou a casa para recomeçar a sua vida rotineira e de mau feitio.
Como tinha
estado uma semana em tratamento, os alhos ganharam humidade e o pó do veneno
ensopado, desapareceu aparentemente mudando de cor.
Ao servir as
sopas de leite e comendo os alhos como era hábito para inundar a velha com o
seu mau hálito, começou num estertor mortal com esgar das faces e uns sons que
pareciam vir do além… agarrada à barriga… com a boca toda espumada.
(um jornal
local dizia: veneno para ratazanas matou uma mulher com o peso de 62 quilos do
Prior Velho, e centenas de ratas com o tamanho de coelhos que viviam na toca da
barraca , e eram às toneladas... o funeral realiza-se no Cemitério dos
Prazeres… acompanhando a defunta, irmãos, primas, tios, avós… e os padrinhos da
rataria.)
Avó
Mataratas, desconhecendo o que se passava e não estranhando as maluquices da
nora, ficou muito feliz… porque foi o primeiro pequeno-almoço que não gozou com
a sua gaguez, e pôde comer com satisfação as suas primeiras sopas de leite que
não estavam azedas… até bateu palmas no fim, quando viu Mãe Matraquilhas
deitada no chão muito roxa, pedindo-lhe auxílio de mão estendida… (e como
sempre sonhou ser actriz), foi dizendo à filha:
- Ó minha
querida! Não sabia que tinhas jeito para o teatro…
Gostei tanto
de ver o gesto artístico dessa mão… direita ou esquerda? Tanto faz!
Foi tão
bonito!
Amanhã
repete, sim?
………………………..