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segunda-feira, 12 de outubro de 1998

A VOZ






VILA NOVA DE POIARES

“A VOZ”

 



Era pequenino, morava ao pé da estrada e um dia comecei a caminhar… seguindo a chama duma voz...

“Uma voz de mel docente, mel de palavras sobre-humanas no templo do meu ouvidor-mor, complemento de partículas flamejantes numa forma ancestral incolor, asas bonitas mais brancas que o brilho de águas cristalinas, uma mensagem de luz na minha companhia.”

Não existiam temores, confiava no som daquele falar, conhecido por mim na vida de outras vidas.

Para onde iria não importava, meus pés pisavam o ar e as nuvens – quinas por onde seguiam meus passos, seguros protegidos, eu ia fascinado pela luz da voz na estrada, saltitando de árvore em árvore, ora de mão dada pelos sentidos invisíveis de alguém que sussurrava em pouca ventania, e me guiava com ternura, e eu sentia o mundo dentro de mim e não tinha medo de nada…

Eu caminhava longe do sítio onde morava, queria seguir o caminho daquela estrada, estrada fora no tempo… ir com aquele ser de asas branquérrimas, onde tudo era branco em ponto miudinho e a cor do mundo transparente que não quer ser visto por enquanto. 

Nisto, senti o soluçar de alguém cansado, abraçado a mim chorando:
- Onde vais filho, que venho aflita?
Para que lugar, em que direcção passas?
Sai tu, vem… porque não paras?
Sou tua mãe querida, volta para casa… e nunca mais sozinho, vais por essa estrada!

Ao colo de minha mãe, para trás olhava, disse adeus àquela luz, acenei… disse um dia que noutro dia voltava.
 Não estava só. 
Sentia que lá no alto daquelas nuvens, havia outras transições, outros cruzamentos e que alguém me amava vindo daquelas esquinas, lugarejo ignoto de existências passadas…















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