ALMEIRIM
RECORDAÇÕES
DAS COISAS
Pois se lá
vivi… foi noutro tempo, de recordações que passaram e em nada de mim ficou
gravado, ou porque as imagens não me deixaram impressões dos gostos do passado,
ou porque minha memória em formação não tenha captado algo que fosse de meu
agrado, a não ser a estrada principal, vislumbre quase imperceptível dum
nevoeiro, a percepção da visão e via-se mal…
Movimento lado a lado, o andar sem comunicação, passos no passeio… passos no passa seguido, as costas e as pernas altas de um homem que levava debaixo do braço o jornal comprimido, braço com sacola de uma mulher perdida, a montra cheia de manequins com vestidos que a mulher queria, e o cruzar dos dois na passadeira, logo daquela maneira.
De um lado a volta, do outro a ida, troca de caminhos de ida e volta inteira. E no trajecto repetido, nas dobras as esquinas, as mesmas lojas e um café na avenida.
E na mesma rua à ida, em sentido contrário vinha o ardina com a banca de jornais, e o carro de duas rodas pregando aos sete ventos os berros do Diário Popular, A Capital, República, Época e Expresso...
E à volta na mesma direcção, sentido contrário do lado da ida, vinha o cauteleiro apregoando os números da sorte, o boné com a mesma estrela e as cautelas penduradas no braço encolhido, gritando a fracção do número inteiro… a sorte daquela semana.
Por não ser
a estrada principal, a visão normal do pouco movimento, um carro de vez em
quando, no outro sentido uma carroça e um cavalo e o condutor com um chicote e
uma correia, uma bicicleta pasteleira da 2ª guerra mundial, e na ultrapassagem
o tinir da buzina duma lambreta prateada, uma furgoneta descarregando material
de caixa aberta para uma loja de electrodomésticos em segunda mão, e por
fim...
Uma criança
com olhos de emoção… ao ver da janela da casa este movimento naquela rua, e que
ainda não sabia os nomes que havia dar àquelas pessoas e veículos em
circulação, a não ser, guardar no coração para poder contar um dia…
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