(SEIA / SERRA DA ESTRELA/ MANTEIGAS)
A SERPENTE
Descia o
vale da serra naquela tarde calma de verão, em pressa moderada.
Minhas
imagens velejando ao vento na velocidade da luz… iam e vinham, voltavam atrás,
e chegavam antes de lá chegar, pelo meio paravam... retrocediam ao começo da
viagem, mal podia esperar, e já antes a tinha inventado nas fantasias de
Manteigas com algumas inclinadas beiras, e eu vinha sempre de Seia.
Fazia o
percurso em dúzias de viagens pelas mais variadas curvas, pelo caminho da
estrada, e de repente – atravessada no pavimento alcatroado, com mais de três
metros de dimensão, passámos por cima do gigante bicho, que sem querer não era
esperado, ficou com a cabeça esmagada, pelas rodas do camião.
Parámos mais
à frente, recuámos, fomos ver o animal, mas nada havia a fazer, devia estar a
morrer com falta de água, e por estar a delirar nada fez para se desviar…
Devia estar
a sonhar com o mais belo lago, que havia na sua miragem, nos pensamentos de
olhos turvos, do calor imenso daquela tarde que criava espelhos no asfalto com
imagens mirabolantes, e a temperatura elevada levantava através da estrada de
alcatrão, as figuras e histórias que eu sonhava…
Fiquei
triste com o acontecimento daquela serpente…
Era como se
faltasse qualquer coisa nas paisagens daquela serra, e tudo que lá estava, eu
amava como se fizesse parte da inóspita e acidentada terra…
Como alguém
de família desamparada nos deixasse pelo viver destas silvas, o dia que não
pode passar sem a hora marcada, para além da vida e da morte… o destino.
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